sábado, 5 de fevereiro de 2011

♥♥♥ Angélica à Luz da Lua ♥♥♥

************************************************* “Às vezes a Justiça parece surgir da fonte
******************************************************** mais improvável. Cuidado com as
******************************************************** companhias inofensivas demais...”
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♥♥♥♥♥ Lembro como se fosse ontem... Às vezes quero esquecer. Acho que poderia ter sido diferente... Mas outras vezes sinto que gostei. Ah, Beto! Se fosse em outros tempos... Nunca imaginaria tamanha facilidade. Gabriel e Alexei me compreendem... Mas vocês... Isso me deixa confusa, maluca mesmo. Preciso desabafar, Beto! A noite recém começou. Por favor, beba devagar. Sim! Eu quero te contar isso...
♥♥♥♥♥ “Eu fui criada, como tu bem já sabe, num circo. A boa senhora, dona do Circo, que me achou ainda bebê, num cesto, e que cuidou de mim, foi internada num asilo, pela filha legítima dela, quando eu tinha 12 anos. Como sofri! Então, aos 16, para evitar diversos abusos, eu fugi, e passei por vários orfanatos, e boates de ‘strip tease’, até conhecer Gabriel.” Mas esta história tu já deve conhecer, exceto sobre o fato de ser eu mesma, não é?! Afinal, tu é um bom policial, ou não!? Haha! Claro que já sabe. Senão, como teria achado meu endereço? Mas, tu parece tão surpreso...
♥♥♥♥♥ Acho que sei, pelo teu rosto, pela tua expressão, o que te incomoda... O que não se encaixa na minha história... É minha idade, não?! Sim! Isso te deixa intrigado! Tu olha para uma garota de 17 anos, e não vê nada além disso. Mas deixa eu te contar algo acontecido há trinta e seis anos atrás. Como sei?! Acredite: eu estive lá...
♥♥♥♥♥ “Eu tivera uma noite e tanto, com a casa cheia, o som dos aplausos, os admiradores, nossa! Estava tudo saindo maravilhosamente bem. Sim, eu havia voltado para o Circo, um outro Circo, e estava feliz. Dois anos havia que eu conhecera meu amado Gabriel. Eu sentia que tinha uma nova chance de fazer algo que amava, e que ainda amo, e jurei me dedicar inteiramente a isso. Naquela noite, voei como uma fada no tecido colorido sobre os expectadores que suspiravam... E fui também a ‘partner’ do atirador de facas e do mágico. Senti o vento das facas que enterravam-se a centímetros do meu rosto.... Todos assoviavam quando eu aparecia.
♥♥♥♥♥ “Após o espetáculo, convidei Sônia, a outra ‘partner’, para irmos a uma lanchonete, onde o pessoal do Circo costumava se reunir aos domingos. Saímos as duas a pé, por uma rua de chão batido, perto das onze da noite. Vestíamos, eu lembro bem, nossos “macacões” que estavam na moda: calça e blusa numa única peça sintética, justa, e em cores metálicas. A Sônia estava de azul ciano e eu de amarelo ouro. Na lanchonete, pedimos refrigerantes (eu nunca bebia, apenas pedia).
♥♥♥♥♥ Foi então que apareceu um sujeito muito incômodo, já meio afetado, com aquele bafo nojento de cerveja. ‘Vanderson’, foi como disse chamar-se.” Argh! Desculpa, Beto... É que sinto náuseas só de lembrar. “Ele não era agradável, mas era engraçado vê-lo, pois parecia um bicheiro: todo cheio de ouro, a camisa aberta, óculos escuros enormes, e um bigodão ridículo. Bem, ele começou com aquelas historinhas, papo de conquistador, cantadas grosseiras pra cima da gente, e não aceitou bem as nossas recusas. Daí, chegou outro, no mesmo estilo, e já bêbado. ‘Heveraldo’, ao que me lembro. Claro que eles se conheciam! Lógico! Imagina... Então, convidei Soninha para sairmos dali. Mas isso muito os ofendeu, e eles então passaram de apenas inconvenientes a ameaçadores.
♥♥♥♥♥ “─ Desculpem, rapazes, mas temos que ir agora. Vem, Soninha. ─ Justifiquei, já puxando Sônia pela mão.
♥♥♥♥♥ “─ Ta limpo, rapaziada! Essas vadias são daquele Circo de ciganos ladrões!  ─ Disse um outro cliente; e um outro ainda emendou:  ─ E devem cobrar barato...
♥♥♥♥♥ “─ Então nós vamos ter uma conversinha, garotas! Sejam boazinhas! ─ Disse o Vanderson, segurando-me pelos braços.
♥♥♥♥♥ “Os outros quatro sujeitos que estavam sentados, todos amigos dos dois safados, também levantaram-se, e o ‘chefe’ continuou:
♥♥♥♥♥ “ ─ Estes são nossos amigos: Miro, este negrão bem-dotado; Paulo, esse mulato forte; e os garotos Sandro, o moreninho, e Roberto, o mais loirinho... São nossos jovens aprendizes lá na oficina. Tudo gente finíssima! Vocês vão gostar da gente.
♥♥♥♥♥ “Sônia queria chorar, e eu rir. Sim, eu ‘tava’ com medo. Mas era também algo diferente o que eu sentia. Não havia ali ninguém do Circo, apenas seis homens estranhos, e  dois balconistas, que pareciam não se importar se aqueles caras violentassem a gente ali mesmo. Provavelmente, os tarados nos matariam, e os atendentes ainda os ajudariam a esconder nossos corpos, para ‘proteger’ o negócio. Minha amiga estava ficando branca, e eu também já não estava confortável... Percebi que não haveria saída. Era ‘dar ou ser comida’. Senti um mal estar que sei lá... Mas depois passou. E foi então que propus:
♥♥♥♥♥ “─ Rapazes, vamos fazer o seguinte: deixem a Soninha ir, e eu fico aqui com vocês!  ─ E lancei um sorriso que misturava malícia e excitação.
♥♥♥♥♥ “─ E por quê faríamos isso?! Ora, se eu gostei justamente foi da morena! ─ Disse o mulato mal encarado, apoiado pelo negro alto.
♥♥♥♥♥ “─ Eu dou conta de todos! Além do mais, ela teve sífilis! E eu estou ‘limpa’.  ─ Menti convicta, mas nervosa, pois eu não sabia ainda ao certo o que iria fazer.
♥♥♥♥♥ “─ Parece que a loira sabe o que diz, macacada! Vamos ver no que dá! ─ Disse o negro já tonto da cerveja.
♥♥♥♥♥ “A custo, eu os convenci a me deixar que levasse Soninha para o nosso trailer, prometendo que voltaria à lanchonete em seguida para ‘a festa’. Houve protestos e revolta, mas o ‘gostosão’ (o Vanderson) disse que ‘tava limpo’, que ‘se eu não voltasse logo, eles colocariam fogo no Circo todo’. Era cada vez mais um caminho sem volta.
♥♥♥♥♥ Assim fiz. Levei minha colega para casa, a pus na cama, e menti que ‘não voltaria lá’. Porém, já decidida, tomei o caminho da lanchonete, que àquela hora já estaria fechada. Eram duas da manhã de uma segunda-feira. Eu vestia agora algo diferente: uma saia bem curta, toda drapeada, de cetim cor prata; uma blusa tomara-que-caia, também em cetim cor prata; e um par de sandálias de tiras, com salto alto, também cor prata. O motivo? Era a roupa mais fácil de 'limpar' que eu tinha. Eu tinha fome, e não me alimentara direito nas noites anteriores. Resolvi juntar o útil ao necessário. Levava na mão um refrigerante, mas não dera sequer um gole. Eu levava na minha bolsa um batom rosa. Lembro tê-lo pego, e passado nos lábios, segurando um pequeno espelho de maquilagem, sob um poste de luz de mercúrio. Lembro ainda de haver olhado na bolsa, e ter visto uma barra de chocolate. ‘Obrigada, querida!’, imaginei ter sido Soninha que a colocara ali. A peguei, e vi nela a gravação que dizia: ‘válido até julho de 74’. ‘Não vai durar tanto!’, pensei consolada. Essa barra de chocolate era apenas a minha fonte de coragem, e não de alimento. Parei diante da lanchonete, mas não vi ninguém.
♥♥♥♥♥ “Após instantes, encolhida e esfregando meus braços como se sentisse frio, ouvi o som de um carro aproximar-se por trás de mim. Era o cara chato de antes (o Vanderson). Ele buzinou, e mandou que eu entrasse na DKW novinha. Eu me fiz de difícil, fiz cara de medo, então ele desceu do carro. Disse-me que estava pronto a ir me buscar no Circo, se eu não aparecesse... E disse-me que eu ‘jamais esqueceria daquela noite’. Nisso ele tinha uma infeliz razão. Sinto ainda algum remorso.
♥♥♥♥♥ “Ele me pegou pelo braço e me levou para junto das rústicas mesas de madeira da lanchonete, onde também apareceram maldosos os outros cinco caras. A tímida luz da lua, obscurecida ainda por nuvens, talvez os fizessem parecer vultos grandes e ameaçadores. Um deles gritou algo sobre ‘a festa haver começado’, outro disse algo como ‘por-me na mesa para ser servida’... Não lembro exatamente das palavras. Foi apavorante! Ainda bem que eu estava sozinha... Dois deles já pegavam-me nos seios, um apalpava minha bunda com força, e como cães, eles pareciam querer me despedaçar.
♥♥♥♥♥ “Então, comecei a pôr em prática meu plano: Disse que, antes de dançar em cima da mesa (tirando a roupa, é claro!), eu queria ‘sentir’ a pressão dando uns amassos individuais, num pequeno banheiro que tinha a porta voltada para a rua.
♥♥♥♥♥ “Pedi que o mais bêbado viesse primeiro, e Heveraldo veio comigo, ao som de gritos e palavrões libidinosos. Entramos no pequeno banheiro e, após dois minutinhos, saí sorridente, dizendo que o rapaz havia ‘pregado’ por causa da bebida, e dos ‘amassos’, claro... Todos riram e um disse para que os outros o deixassem lá. ‘Seria um a menos para dividir o prêmio’. ‘Graças a Deus!’, pensei. Pedi que um segundo fosse comigo até atrás da lanchonete, e Miro veio feliz, bebendo cerveja no gargalo. Após dois minutos, voltei para perto dos outros. Eles nem quiseram saber o que houve com o negro. Chamei o terceiro, que era o Paulo, e este já estava muito tonto. Foi fácil também. Deixei-o atrás do trailer, pertinho do outro.
♥♥♥♥♥ “Voltando, disse ao ‘meu bicheiro favorito’ que era a vez dele. Este, vitorioso, comentou algo sobre eu ‘sempre voltar limpando a boca’ num lenço vermelho que eu tirava da bolsa. Ele dizia aos outros dois que eu ‘deveria fazer mágica com a boca’. E sugeriu ‘fazermos aquilo’ na DKW dele. Adorei, pois assim ficaria muito mais fácil.
♥♥♥♥♥ “Contudo, eu mudara de idéia. Implorei a ele que ficasse por último. Disse-lhe que o ‘tratamento’ reservado a ele seria o mais ‘vip’, e que seria muito especial, bem diferente do dispensado aos outros. Ele, impaciente, concordou, já que seria assim. Peguei um dos restantes pela mão, Sandro, e percebi que ele era bem novinho. Talvez tivesse uns 20 anos ou menos. Levei-o até a parte traseira do trailer, onde dois homens já estavam caídos, como bêbados que eram. Ele ainda comentou sobre ‘o que eu teria feito a eles para estarem fracos assim’. Eu sorri. Este seria o primeiro que realmente me daria alguma coisa, algum prazer. O primeiro a valer a pena. Era bonito, perfumado, e não havia bebido. Eu estava ficando fraca, e enfrentar o grandão consumiria muita energia. Por isso, eu precisava ‘comer’. Este garoto estava muito excitado, e seu pulsar vigoroso despertou minha libido. Ele se gozou só com minhas carícias, com roupa e tudo. Beijei-o, então... Eu estava em pleno êxtase, quando ouvi uma voz jovem gritar qualquer coisa. Voltei o olhar na direção dela, e sorri. Roberto estava nos espiando. Aterrorizado, ele correu para junto do ‘meu amigo cafetão’, falando alto e afobadamente. Dei uma última lambida no pescocinho do garotão. Deixei-o ali, caído, gemendo e balbuciando coisas incompreensíveis, e voltei para perto dos outros dois.
♥♥♥♥♥ “O garoto que nos espiava, que era o mais novinho, estava muito assustado mesmo. O ‘gigolô de camisa florida’ mandava-lhe ficar calmo, e dizia que ele ‘estava assim tão nervoso só porque nunca antes participara de uma dessas festas’.
♥♥♥♥♥ “─ Roberto... Tá com medo de mim, moleque?!  ─ Perguntei, sorrindo maliciosamente para o menor.
♥♥♥♥♥ “─ Quantos anos tu tem?! Dezesseis?! Eu adoro garotinhos!  ─ Completei.
♥♥♥♥♥ “O ‘taxista enfeitadão’ mandou o menino vir comigo. Mas este tremia feito vara verde. ‘Sim! Ele viu!’, eu pensei. ‘Mas vai contar pra quem?!’ Dei uma risada gostosa e fiz sinal para o grandão, dizendo que eu não faria nada com ‘uma criança’. O sujeito bem que gostou, e já vinha pra cima de mim com aquelas mãos grandes e cabeludas quando, num gesto involuntário, o garoto gritou advertindo-o para que não o fizesse. Foi em vão. O menino implorava para que o cara não me tocasse, e para que fossem embora dali. Sem ser ouvido. Eu senti que ‘o gostoso da festa’ estava perto. Cheguei no bofe mais velho e, só em tocá-lo, fiz com que ele se gozasse, com a calça branca e tudo. Enquanto o ‘caminhoneiro flatulento’ me agarrava e bolinava como um animal, esfolando meu pescoço com aquela barba cerrada, e com aquele bigodão nojento, o garoto gritou algo da porta do banheiro. Ele puxava um corpo para fora. O homem me soltou, e já iria ralhar com o moleque, quando viu aquele primeiro bêbado, seu amigo, estirado no chão, inerte. O fortão me empurrou, e caí sobre a mesa. Ele foi conferir. Após isso, o guri o levou para trás do trailer, onde apontou três corpos estirados que jaziam escorados na parede. Apenas um ainda respirava...”
♥♥♥♥♥ Não, não ria, Beto! Não foi engraçado...
♥♥♥♥♥ “‘A festa começara’, pensei. Nunca eu vira tantos gestos desesperados; nunca eu ouvira tantos palavrões contra mim, ora obcenos, ora incompreensíveis; nem tantas frases de esconjuração. Ao mesmo tempo em que me chamavam de coisas indescritíveis, pelo medo que eu lhes causava, o ‘contraventor excitado’ ainda ameaçava-me de estupro! Que pervertido! Mas o ‘folgadão da DKW’ não teve coragem, e tirou uma navalha do bolso, abriu-a, e ameaçou-me com aquilo. Acho que ouvi algo assim tipo: ‘Eu vou te cortar, cadela suja!’ ‘Tu vai ver só, piranha traiçoeira!’.
♥♥♥♥♥ Diante de tanta gentileza, retribuí: ‘Porco sujo! Rato imundo!’, e saltei no colo dele, abraçando-o com braços e pernas, fazendo-o desequilibrar-se. Quando ele bateu-me contra uma das colunas de madeira que sustentam o telhado, caí sobre uma das mesas, indo ao chão. Vi o sujeito correr rumo à sua DKW, e algo espirrava do seu pescoço. A meio caminho do carro, ele caiu, convulsionando, para em seguida parar de se mover. Sobre uma mesa, debruçada como se estivesse na praia, eu assistia a tudo sorrindo. Quando o cara finalmente entrou em ‘rigor mortis’, voltei o olhar para o menino que, encolhido em um dos bancos de tábuas, imóvel mesmo, congelado de pavor, olhava-me como se implorasse, mas sem muita esperança de redenção. Ainda brinquei com ‘a refeição’, fazendo um olhar que dizia que ‘ele seria o próximo’. Ele estava para desmaiar, quando segurei seu rosto entre as mãos, e desmenti a ameaça, olhando bem dentro dos seus olhos:
♥♥♥♥♥ “─ Fica tranqüilo, Roberto! Eu não machuco crianças.  ─ e o beijei maliciosamente na boca.
♥♥♥♥♥ “─ Além do que, já me alimentei hoje. Graças ao italianinho bonitinho que não ‘tava’ bêbado. Vai pra casa, moleque! E não se esqueça: foi um animal selvagem que atacou estes vermes!”
♥♥♥♥♥ Sabe, eu não me alimento nem de bêbados, nem de drogados, nem de gente suja e engordurada como aqueles. A tua sorte foi que o teu amigo garotão saciou a minha fúria. Ele iria sobreviver, só suguei um pouquinho. Mas os outros, estupradores nojentos, violadores de meninas indefesas... Ah... A estes eu dei o que mereciam...
♥♥♥♥♥ “Ainda dei uma última olhada no garoto que, embora mais aliviado, ainda não conseguia se mover. Lancei-lhe um beijinho estralado de longe, sorri, e voltei para o Circo, onde destruí qualquer prova da minha estada naquela lanchonete.”
♥♥♥♥♥ Ah, vejo que tu ficou sério de novo! Acredita agora, Beto?! Prazer, eu sou Amanda. Nossa! Tu cresceu, heim?! Tá um homem... Espero que tu não ande mais em tão más companhias... Tu te tornou policial por vocação? Ou será que foi porque tu sempre foi obcecado com o que aconteceu? Bem, agora tu já me achou! O que vai fazer, Beto?! Vai me prender?! Vai convencer alguém que uma garota de 17 anos estraçalhou quatro homens enormes, há trinta e seis anos atrás, deixando por testemunhas dois jovens ‘usuários de drogas’?! Sim, porque foi isso o que pensaram de vocês... Ou será que tu veio até mim pra me matar, pra vingar aqueles vermes?! Não creio! Não se pode matar o que não vive! Minhas bochechas rosadas e minha ‘respiração’ estão te enganando?!
♥♥♥♥♥ E, além do mais, a justiça foi feita. Boa noite, Beto! Agora, me deixa sozinha... A noite é longa, e a fome bate quando menos se espera. Ainda mais quando se tem 17 anos... e para sempre. Se quiser, volta uma outra vez, pra tomar um suco e ouvir mais histórias. Às vezes me sinto muito só. Beijo, Beto!
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