domingo, 21 de julho de 2019

Crônicas de Gabriel Diniz II

"Quisera eu poder controlar isso, minha querida...
Ah, quisera eu! Me perdoe! Ahhh... Ohhh! Lamento... Isso não vai me matar. Apenas causa uma dor incômoda, mas você sabe disso. Essa adaga não pode me ferir seriamente... Isso apenas me causa mais sede... Meu coração morto agora sangra... Mas não mais física do que sentimentalmente.
Me perdoe! Eu me excedi, confesso... É esse meu ciúme incontrolável, que me segue através das eras, e que tento, mas não consigo superá-lo.
Vá, minha querida... Vá! Corra para ele. Abrace-o forte, como se não houvesse amanhã! Pois não haverá mesmo. Haha! Não para ele, e você não pode mudar isso.
Em seu ódio, você esbravejou que deseja que eu sofra... Gritou que me quer sofrendo através dos anos... Sim, eu sofro!
Você deseja torná-lo um de nós. Você o quer, você o ama. Ah, criança... Se soubesse apenas um milésimo do que eu sei! Você não viveu o que eu vivi!
Ahhh... De novo?! Haha! Assim, de meu peito se esvairá toda a minha razão, todo o meu autocontrole...
Isso, chore, minha fada... Chore, desabafe, ponha para fora esta dor!
Lamento. Eu não posso fazer nada, a decisão não é minha. Você o quer, então aproveite o tempo que ele ainda possui. Depois, será tarde...
Como?! Quer que eu sofra para sempre?! HahahahahahaHaha! Deixa eu te dar uma aula sobre o que é sofrer! Deixe que eu lhe antecipe um pouco do que está porvir.
Imagine, minha musa, viver eternamente. Parece atraente, não? Parece um bom negócio, principalmente em um mundo de pessoas egoístas e vaidosas...
Não! Não se engane... Viver para sempre não é nem de longe um bom negócio.
Há pessoas que matariam por isso. Que trairiam, incendiariam, cometeriam as piores atrocidades por uma chance dessas... Estúpidos! Humanos estúpidos...
Tente entender, meu amor, o real significado de andar sobre a terra sem ter a noção do tempo.
Tente imaginar você, que ainda é jovem, como será atravessar os séculos dos séculos sem mudar em nada fisicamente. Tente imaginar gerações inteiras de pessoas com quem você se relaciona, gerações inteiras de vizinhos, amigos, inimigos, amantes... todas virando cinza num piscar de olhos... do dia para a noite. Você ainda mantém os sentimentos humanos, e isto é tanto uma bênção quanto o pior dos castigos.
Você verá o seu amante apaixonado de hoje mudar tão rápido, que quando passar o tempo de um sorriso, ele já não terá mais o mesmo rosto. Seu amor verdadeiro de amanhã, será pó depois de amanhã. E verá isso tantas vezes... mas tantas, que logo se acostumará. E ficará quase que insensível a isso. Quase, ou totalmente! Espero que não. Eu não fiquei. Não! Eu sofro! Eu cumpro o seu desejo, e sofro. Atrozmente... Lascerantemente... Brinhildr... Heidi... Brigite... Jeanette... Francesca, Constanze, Imália... Todas pó! Todas nada! E foram, cada uma delas, o grande amor da minha vida...
Vá! Vá para ele! Aproveite a noite. Mas lembre-se... Eu sei o que é sofrimento. E você, em questão séculos, em um piscar de olhos, também saberá na pele.
Só existe algo maior que nossa fome pelo sangue quente... A nossa inveja da mortalidade.

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