domingo, 21 de julho de 2019

Crônicas de Gabriel Diniz


>>>> "Bebei, querida Carlota! Bebamos! É muito bom estar aqui novamente, após tantos meses... E digo que é deveras maravilhoso estar diante de vós aqui nesta vossa aconchegante casa. Convosco regalar-me-ei por breves e mágicos instantes, bebendo e ouvindo as novas desta tão amada terra, minha tão cara e amada Villa Rica, que sempre levo ardendo junto ao peito, por onde quer que eu perambule. Já deveis saber, senhora de minh'alma, que meu prestimoso e inflamado amigo está preso, mas sabei também que pretendo reverter tal desagradável situação com minha pouca influência junto ao Governo Geral, lá no Rio de Janeiro, para que o bom Joaquim seja perdoado, e que todo esse 'mal entendido' seja esquecido. Pelo menos, até nos fortalecermos novamente. Isso, minha fada... Bebei! Agora deitai vossa adorável cabeça aqui, sobre meu pobre e atrofiado coração. O caríssimo Gonzaga, nosso desembargador também está em apuros. E não gosto de ver colegas poetas em apuros. Já o Cláudio Manoel, este não me preocupa. Sua família é influente o suficiente para que sua pena seja comutada em algo mais suave...
>>>> A noite está diferente, senhora! Está bela e assustadora. Talvez sejam os acontecimentos, não sei precisar... Contudo, há algo de tétrico na brisa que sopra da janela. Permiti que vossa escrava a feche, por obséquio!... Sim... Sim, obrigado, Cibele!
>>>> Agora podes se recolher. Doce Carlota, as coisas não andam como planejamos.
>>>> E pensar que seria tudo diferente. Seria tudo tão mais fácil para nós!
>>>> A derrama inflamaria o povo, e este estaria ao nosso lado. Enfim... Teremos que esperar. Infelizmente, não posso me demorar. Acabo de perceber que preciso mover algumas peças... Mas não penseis vós, meu anjo renascentista, que entre estes anjos barrocos, tão feios, como Mestre Antônio os faz, apesar de seu mal doloroso, não há espaço para o requinte. Saberíamos transformar esta terra de brutos em algo jamais visto na saturada Europa. Faríamos isso e muito mais.

>>>> Bem, preciso sair, hoje não me resignarei a manusear a pena nesta solitária mesa, sentindo o silencioso carvalho sob meus punhos... Hoje irei à taberna, perscrutar por aí, a saber das notícias da capital sobre o que pretendem fazer com os prisioneiros. Espero sinceramente poder, e a tempo, ajudar nosso bom alferes, o mais autêntico dos homens nesta bruta e bela terra de ouro e sangue."

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